quarta-feira, 11 de maio de 2011

O Barco

A despedida de algo que ainda não se foi, mas em essência foi sem sequer dizer adeus é massacrante. Muito esporadicamente, faz uma breve visita como que para lembrar que ainda está aqui embora nunca mais do mesmo jeito.

 Talvez não ajam palavras, gestos, lágrimas até mesmo sofrimento que seja suficiente para demonstrar o quanto esta ausência é cortante como milhares de lâminas atravessando o coração ao mesmo tempo e por mais que a vontade de fugir seja imensa, não há maneira de se imaginar em outro lugar e nem agindo de qualquer outra forma.

 Existem sensações que não podem ser denominadas ou definidas apenas sentidas e cabe a quem as carrega muita força, coragem e sabedoria para aceitar seus benefícios, mas acima de tudo as suas conseqüências, pois com elas chegam às responsabilidades.

 Não adianta também sonhar que ao fazer o que é certo, analisar e ser prudente vai lhe isentar de pagar um preço tal qual paga àquele que errou por toda uma vida. O responsável fará seu papel, pois esta é sua escolha, mas também será sua escolha abdicar de alguns prazeres que o errado conhece bem, quanto ao errado pagará sua dívida por não ter se doado mais e por ter sido imprudente.

 Bem ou mal todos são imperfeitos e o tempo passa para todos,de modo que um dia não serão mais necessárias e nem possíveis pequenas visitas pois o barco já terá partido para sempre,mas um dia em meio a imensidão do mar não haverá mais despedias pois a eternidade será o reencontro.

Autor:DeborahMM:Deborah Monte Medeiros


Opinião:
Para mim é difícil escrever uma crítica sobre algo que eu mesma criei,mas espero que vocês olhem com carinho,estas partes de mim que estou colocando neste blog e que toda e qualquer citação  tanto a meus textos e poesias quanto a dos autores que estão expostos aqui seja feita adequadamente.
Citação:
“Queridos: Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. 


É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte. 


Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos. 


Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha? Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. 


É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. 


Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. 


Beijos pela última vez. Olga”

Última carta de Olga Benário a Luiz Carlos Prestes e a sua filha Anita Leocádia,escrita no campo de concentração em Ravensbruck na Alemanha em 1943.

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