terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Sem ver

Eu estarei sem estar
Naquele escudo do Nirvana no chão
No DVD da fábrica de chocolate
Quando você acertar o alvo
Nas tintas e pincéis
Nas dedicatórias dos livros
Na camisa do Einstein
Nos desenhos da Disney
No deck azul
Nas danças terei cadeira cativa
No riso das cócegas
Até nas ausências
Te acompanheirei em todas elas
E assim te verei partir
Amando sempre com todas as forças
Sem mas
Sem pontos ou vírgulas
Apenas reticências
Assim te acompanharei sem estar
E verei de olhos fechados
E onipresentes

Deborah MM



terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Ausência

Eu não me acostumo sem teu cheiro 
Sem o teu barulho
Sem o som dos teus passos
Sem a tua impaciência ao me ver 
Sem a tua loucura com o cheiro da minha comida
Sabia que eu ainda fecho o portão pra sair com o carro?
Sabia que eu sento na tua cadeira e fico olhando o quintal?
Eu calei porque outros precisavam chorar mais que eu
Mas eu senti
Eu sinto
Eu lembro do olhar fixo
Do corpo sem força 
Odeio ser forte
Carregar nos meus braços
Você 
A dor dos outros 
...
...
...
...
Finalmente, carregar a minha dor
Fotos suas pela casa
Lembranças na cabeça 
A tua alegria não me espera mais na porta
Pelo meu aniversário você veio 
Talvez você seja o presente de Natal desse menino que está chegando 
Espero que tenha sido sem dor
Só lamento não ter estado ao seu lado
E tantas vezes você esteve no meu
As vezes o meu bom dia e o boa noite só você me dizia
Estivesse como estivesse , com você nunca estive só 
Que agora você esteja correndo 
Pulando
Brincando
E fazendo festa
Que no dia que eu subir pra brincar 
Eu veja aquela alegria espalhafatosa
E eu sinta aquele cheiro de amor de novo





segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O sorriso

Aquele daquele dia
Quando eu disse que faria
Uma ondinha com os dedos
Para tocar o seu violão.
Pode ser aquele também
Que você deu 
Por conta das esferas do dragão.
Lembra daquele?
Aquele que eu dava 
Quando o Thiaguinho te abraçava
E você mais que brava
Ria de raiva
Aqui da palhaça.
E aquele outro ?
Que você fez contido
Ao ouvir aquela conversa do livro
Aquele, aquele livro do Chico.
Nossa foram tantos 
E em tão pouco tempo
Que não tenho palavras
Eles 
Aqueles
Todos eles
Lindos
Maravilhosos
Parece até feitiço
Esses teus risos.

Deborah MM




quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Lealdade

Posso ver sofrimentos terríveis
Dores insuportáveis
Mas o desespero da tua fala
A tua preocupação estampada
São minha maior tortura
Essa é a minha droga
A minha fonte de loucura
A vontade de por no braço
Quem está no coração
No entanto eu escuto e calo
Aconselho e silencio
Resolvo e vou embora
Aguardando o seu próximo pedido
Já que o meu pedido é sempre o mesmo
O teu sorriso

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Os cincos sentidos de todo mundo


Olhar é para todo mundo
Mas e se tiver quem veja?
Se aproxime
Ouvir é para todo mundo
Mas e se tiver quem entenda?
Segurar as mãos
Como se segurasse a alma
Falar é para todo mundo
Mas e se tiver quem converse?
Tocar é para todo mundo
Mas e se o toque for para proteger?
Voltando a ver
Garantindo que tudo está bem
Agora se afastar
Soltar
Entregar
Daqui pra frente você consegue ir 
Ver agora em outra direção
Que fardo não?!
Ajudar é para todo mundo 
Mas libertar não
Um dia a visão estará cansada
Entender será difícil
A conversa será muda
O toque não vai mais proteger
Mas talvez neste não exista mais fardo
Livre
De olhos fechados
Ouvidos surdos
Boca calada
Mãos frias.

DeborahMM



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Palavras

É como uma chama
Queima por dentro
É ácido
Corrói por inteiro
O gosto ruim sobe
Sinto amargar
Respiro fundo
E outra vez
E de novo
Até que não dá
Aí já disse.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Regressão

Dormir na rede
Que comi pipoca de isopor
Pedia um irmãozinho sem parar
Um balde grande de brinquedos
Ouvi um coração bater forte e rápido
Logo ela estava no meu colo
Mamãe chorando por um limão
A fumaça do cigarro
De uma ausência todas as noites
Uma tarde
Quatro mãos
Medo
"Não diga isso dela!"
Uma manhã na cozinha
Uma tarde no quintal
Uma manhã no alpendre
Duas mãos
Um sabor horrível
Nojo
Dois olhos
Para onde fosse
O que quer que fizesse
Dois olhos
Uma noite
Duas mãos
Correria e gritos
Um abraço
Uma parte da história
Medo
Pesadelos
Xixi na cama
Cobras
Mais uma vez duas mãos
Essas consentidas
Mas eram duas mãos
Eu as tirei.
Sem mais mãos.
Deborah MM


domingo, 28 de agosto de 2016

Gratidão

É dado
Cedido
Doado
Por vontade
Sem obrigações
Ou culpas
Sai de dentro pra fora
Tão leve quanto sorrir
Tão natural como dormir
A quem recebe
Fica a sensação
Não objeto
Ou o favor
E sim o gesto de amor
De cuidado
De amparo naquela hora
Que sempre será lembrado
Como está sendo agora.


Deborah MM





segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Normalmente eu mesma escrevo, mas o hoje será o Vinícius que no meu pôr-do-sol de hoje me emocionou com este:

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes

sábado, 20 de agosto de 2016

Um minuto de silêncio

Parar
Pensar
Evitar mais um embate
Calar
Guardar pra depois
É assim mesmo
Não vai mudar nada
De que adianta se aborrecer
Nada vai ser perfeito
Com o tempo a gente ajusta
Quando nos damos conta
Engolimos
Aceitamos
E permanecemos os mesmos.

Deborah MM



segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Preço

Eu pago
Eu compro
Se deu defeito joga fora
Compra um novo
Troca
Pago mais por garantias
Não pode ter defeito
Nem ter marcas.

Sabe porquê?

Consertar dá trabalho
Pode ser que quebre de novo
O novo também pode quebrar
Não há garantias
Esse é o preço que pagamos pelo hoje de todos os dias.

Deborah MM


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Aquele

Sabe aquele que nunca pode faltar na festa?
Aquele que junta todo mundo
Aquele que brinca com cachorro
Aquele que fica com as crianças
Aquele que sempre sabe onde ir
Aquele que dá carona
Aquele que lembra daquele que tá faltando
Aquele que é o que você precisa
E quando você precisa
Que é assim para você
Que é assim para os outros
Aquele que você diz " que cara legal"
Aquele amigão de todo mundo
Sempre disposto a ajudar qualquer um
Aquele que nunca esquece ninguém
Aquele que por fazer isso todo dia
É normal.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Incrível

Você é incrível!
Nossa! Muito obrigada!
Puxa, você lembrou disso!
Caramba! Só você!
Obrigada por cuidar
Se não fosse por você eu nem sei
Você é maravilhosa!
Vem cá,Você existe mesmo?
Você é tão boa!
Ótima
Excelente
Sei que posso contar com você!
Mais um dia de bondade se passou
E no fim
Sou tão incrivelmente boa
Que me digo " Oi , tudo bem?"
E me respondo sozinha.


Deborah MM

quarta-feira, 27 de julho de 2016

O Vôo

Tão calmo
Que é possível ouvir o vento
Tão belo
Que emociona
Tão simples
Que comove
Tão natural
Que é virgem
Tão suave
Que toco com os dedos
Tão desejado
Que foi saciado
Tão idealizado
Que se realizou
Tão sonhado
Que se tornou livre.

DeborahMM

domingo, 29 de maio de 2016

Pedra, Papel ou Tesoura?... Fogo


Eu sou pedra
eu quebro a tesoura
o papel me enrola
eu sou uma mistura heterogênea de vários elementos
que se ligam e me deixam dura
quase impenetrável
fria e áspera.

Eu sou papel
eu enrolo a pedra
a tesoura me corta
depois que dobro nunca mais volto a ser o mesmo
se eu beber muito me esfacelo
perco as forças
e o que foi escrito

Eu sou tesoura
eu corto o papel
eu corto tudo a minha volta
menos a mim mesma
a pedra me quebra.


Não sou pedra
Não sou papel
Não sou tesoura


Eu sou fogo
Camões me condenou
a doer sem sentir
na medida certa eu aqueço
se passar do ponto eu queimo
decomponho a pedra
queimo o papel
derreto a tesoura
posso ser chama, fogueira e vulcão.





DeborahMM



quinta-feira, 12 de maio de 2016

Espelho

O caminho tem fim
Em todas as direções que observo
Me vejo em mim
E assim me preservo

Nem sempre é assim
Por vezes a conotação é outra
Um ciclo sem-fim
Desgaste até a última gota

Este é o meu mergulho
Dentro da superfície de reflexo
Que faz barulho
E exibe meu eu complexo

Não sei o que vou encontrar
Há trevas e luz
Talvez um sol a brilhar
Ou a minha cruz

Uma vez vi uma mulher
Ela me olhou de volta
Ela pode ser o que quiser
Se ninguém bater-lhe a porta

Um dia nós vamos nos ver no jardim
Ela vai segurar uma flor
E quando dermos as mãos será o fim
Acabará a dor

Não haverá mais cacos
Nem haverá duas
Apenas um par de passos
Os velhos reflexos,destruas

De mãos dadas como iguais
Elas se unem
Nesse encontro sem mas
E sem nem

Nesse encontro
A mulher de fora
Diz para a de dentro
Porque só agora?

                       DeborahMM